* Por John Lenon Teodoro
A
construção do Novo Serviço Público como modelo de administração pública orienta-se
pela ideia de interesse público e pela visão de que os administradores públicos
estão a serviço de cidadãos, os quais são capazes de engajar-se, junto aos servidores,
para o alcance de objetivos comuns, o que exige constante e ampla capacidade de
diálogo e articulação. Tendo em vista os desafios da administração pública
brasileira, pode-se observar potenciais e desafios da governança democrática em
rede, a partir de exemplos na região da Foz do Rio Itajaí, em Santa Catarina.
Governança
democrática em rede pode ser entendida como formulação e implementação de decisões
coletivamente vinculantes pelo envolvimento sistemático de atores privados com
os quais os atores públicos coordenam suas preferências e recursos numa base
voluntária não hierárquica (Denhardt, 2012).
Um
exemplo de expressão de governança em rede ocorre a partir da ação do Observatório
Social de Itajaí (OSI), uma organização sem fins
lucrativos e apartidária, que mobiliza e articula um grande número de organizações
representativas da sociedade civil com vistas a contribuir para a melhoria da
gestão pública. O Observatório conta com apoio e contribuição de diversas
organizações locais para sua manutenção. Suas atividades são realizadas por
meio de VOLUNTÁRIOS, pessoas dispostas a dedicar um pouco de seu tempo em favor
do município de Itajaí. O Observatório atua concomitantemente com Conselhos
Municipais, Câmara de Vereadores, Prefeitura, Tribunal de Contas do Estado,
Controladoria Geral da União, Ministério Público, entre outros órgãos públicos,
em favor da transparência e da qualidade na aplicação dos recursos públicos,
por meio de metodologias para monitoramento de licitações municipais, ações de
educação fiscal, promoção da cidadania e contribuições para melhorias na
qualidade dos serviços públicos.
O
Observatório busca proporcionar à sociedade oportunidades que promovam a coesão
social, por meio da transparência e zelo na gestão dos recursos públicos,
despertando a comunidade para a importância socioeconômica dos tributos. Para
alcançá-lo, trabalha de maneira articulada com vários parceiros, os quais
desempenham diferentes papéis e contribuições, de acordo com os conhecimentos e
recursos que cada organização dispõe.
Esse
exemplo mostra que é essencial, para a governança em rede, que haja conexão dos
cidadãos e profissionais no tratamento de problemas públicos. Seguindo o ideal
proposto pelo Novo Serviço Público, uma alternativa à gestão pública tradicional
ou aquela atrelada ao mercado, a abertura dos servidores públicos ao
envolvimento dos cidadãos é fundamental para que estes de engajem e, junto aos
servidores, produzam bens e serviços públicos mais qualificados.
Por
outro lado, verifica-se, ainda, uma forte resistência ao modelo de governança
democrática em rede. Particularmente, podemos citar o exemplo do transporte
público coletivo na Foz do Rio Itajaí. Buscando integrar o transporte na
região, foram realizadas reuniões públicas com diversas entidades regionais,
promovidas pelas Câmaras de Vereadores de Itajaí, Balneário Camboriú e
Camboriú, Conselhos Municipais de Trânsito, Prefeituras (através de suas
respectivas secretarias municipais), Empresas Concessionárias e o Departamento
de Transportes e Terminais – Deter, órgão responsável pela concessão das linhas
intermunicipais, sua regulação e fiscalização.
A
discussão tinha como objetivo a integração desses municípios no transporte
coletivo, com pagamento de passagem única pelo cidadão no trecho que compreende
o território dos três municípios citados. Porém, por conta de uma
legislação ultrapassada e empresas concessionárias detentoras de contratos de
concessão com previsão de 20 anos, foi inviabilizada a integração, independentemente
de haver interesse público evidente, envolvimento de múltiplos grupos e da sociedade, de forma geral.
Podemos
observar que a governança democrática em rede aproxima os cidadãos e os
servidores públicos engajados nas discussões de política pública e nas questões
de implementação, colocando em cheque o modelo tradicional de gestão pública.
Entretanto, há ainda muitas resistências a serem superadas.
Para
saber mais:
DENHARDT, Robert B. Teorias da Administração Pública. São
Paulo: Cengage, 2012.
OSI - Observatório Social de Itajaí.
www.ositajai.org/.
* John Lenon Teodoro é graduado em administração pública pela Udesc/Esag, aluno especial na disciplina Coprodução do Bem Público, do Mestrado em Administração da Udesc/Esag, e secretário municipal da Prefeitura de Camboriú - SC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário