A (Des)Confiança Formadora do Interesse Público:
Formação
do espírito de Cidadania em busca da Democracia ideal –
Coprodução
seria um caminho?
Por Caroline Rodrigues Döerner*
As bases
históricas de uma Sociedade e suas formas de controle e administração são
informações chave para analisarmos os motivos do seu desenvolvimento, sucesso e
fracasso, bem como alternativas possíveis de melhorias. É inegável a vasta
discussão existente acerca da Sociedade e do Estado ao longo do tempo. Não se
pode mencionar Sociedade, sem antes mencionar a Comunidade, que possui como características as relações feitas de
sentimentos e confiança em determinados
grupos. É importante mencionar a relação entre Sociedade e Comunidade,
sendo que em uma Sociedade os
indivíduos se juntam de forma mais impessoal, enquanto que em uma Comunidade os
cidadãos possuem relações mais conectadas e próximas.
No
desenvolvimento das Comunidades e Sociedades surge o conceito de Cidadania, em que os indivíduos passam
a discutir dentro de uma Comunidade política, seus direitos e responsabilidades
como cidadãos. Nesse momento,
percebe-se a necessidade de uma instituição que assegure que as Comunidades
busquem o bem comum. Assim, o interesse público com base em valores compartilhados sugere um processo que vai além do jogo de interesses particulares que incluem democracia compartilhada e os valores
constitucionais. Surge a confiança do cidadão, e confiança é construída sobre a crença de que governo está agindo em
resposta ao interesse público e os
valores compartilhados da Comunidade. A (des)confiança, ou seja, "o declínio na confiança deve-se ao crescimento da percepção de que os governantes eleitos,
administradores e cidadãos procuram
maximizar seu próprio interesse "(Di Ruscio e Holmberg,
1996, 464).
O Estado
deve, pois, passar confiança aos cidadãos, além de garantir os
direitos fundamentais e a busca do bem comum de acordo com as necessidades de cada
Comunidade. No entanto, o sentimento de não
estarmos sendo representados na atual democracia brasileira, predominantemente
“representativa”, é muito grande. As pessoas não se identificam mais com os
ideais político-partidários que deveriam refletir no consenso de uma parte da Sociedade
para que entrasse em diálogo com os ideais de outra parte. O atual modelo foi corrompido pelo interesse de
poucos, o que frustra o engajamento e a confiança dos cidadãos. O ideal democrático de pessoas ativamente engajadas
na Comunidade
é contrastado com o mundo do Direito, garantidor das posses
(propriedade) dos interesses individuais.
Soma-se
ainda, a quantidade de atividades da vida civil que prejudica
as ações ativas do cidadão. As pressões da vida
profissional, pessoal e a quantidade de leis e ordenamentos que se deve
conhecer (burocracia) prejudica a disponibilidade de tempo e motivação para a participação na vida política (democracia).
Em contraponto, há uma série de razões para
buscarmos por altos níveis de participação pública em uma sociedade
democrática. A primeira razão é a nossa crença de que por meio da participação
ativa podemos alcançar melhores resultados, visto que refletiriam nas decisões
do povo como um todo ou a juízos ponderados de grupos específicos e são
consistentes com as normas da democracia. Por meio da participação popular, os
cidadãos podem ajudar a garantir que os interesses individuais e coletivos
estão sendo ouvidos e respondidos pelo Estado.
Nesse sentido foi desenvolvido o conceito
de coprodução, em que há o
envolvimento dos cidadãos na provisão dos serviços públicos em uma relação de
equidade. É diferente do voluntariado clássico, mas envolve voluntarismo, por
envolver o “fazer” por parte do cidadão, por meio de sua voz, mãos, enfim,
ações engajadas em busca do interesse público. Esse conceito está sendo
amplamente difundido por todo o mundo, com experiências e resultados concretos,
restando em uma Administração Pública mais eficaz, em que as Comunidades
(descentralização) atuam fortemente articuladas entre si. No Brasil, o referido
modelo também vem sendo desenvolvido de longa data. As ações de algumas Comunidades podem ser percebidas e estão tendo resultados positivos. No entanto, a
cultura brasileira da participação direta, do engajamento, ainda não foi
amplamente replicada, sendo que não são de conhecimento da maioria dos
brasileiros as diversas ações participativas que estão ocorrendo no território.
A essência dessas ações é que quanto maior a participação dos cidadãos, maior a
motivação, o engajamento e a fiscalização para o alcance do bem comum.
Podemos concluir, então, que estes são alguns dos elementos que definem a Cidadania ativa e responsável.
Por sua vez, o governo deve ser
responsivo às necessidades e interesses dos cidadãos.
O novo serviço público e a coprodução procuram incentivar
os indivíduos a cumprirem as suas
responsabilidades como cidadãos de forma
compartilhada, resgatando, assim, a confiança em prol do interesse público.
Bibliografia
relacionada:
DENHARDT,
Jane Vinzant; DENHARDT, Robert B. The New Public Service: Serving,
not Steering. New York: M.E.Sharpe, 2003.
DI RUSCIO, D., HOLMBERG, A. Subspace
identification for dynamic process analysis and modelling. Halifax, Nova
Scotia, 1996.
* Caroline Rodrigues Döerner é Contadora, Bacharel em Direito e Especialista em
Auditoria e Perícia Contábil. Atualmente é Finance Manager de multinacional
japonesa na área de tecnologia, Consultora Associada da empresa GDWill
Consultores Associados e aluna especial das disciplinas de Coprodução do Bem
Público e Administração Pública, Estado e Sociedade do Mestrado em
Administração da ESAG-UDESC.
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