* Por Guilherme dos Santos Murara
A utilização da internet e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) é
realidade e questão fundamental para a inclusão social e laboral das pessoas na
contemporaneidade. A proposta do Projeto Caixa Digital é incluir socialmente
crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social, da comunidade
do Morro da Caixa, em Florianópolis e região, por meio das TICs. O diferencial
acontece na utilização das ferramentas na transformação da própria comunidade.
Uma pesquisa de pontos positivos na comunidade e o que precisa ser
melhorado realizado no Microsoft Office Excel, um ofício redigido no Microsoft
Office Word dirigido ao Prefeito, um mapeamento das áreas disponibilizadas à comunidade realizado pelo Google Maps e outras ferramentas colaborativas são
exemplos de como usar as tecnologias da informação para a transformação social.
Figura 1 - Atividade
de Mapas Colaborativos
As tecnologias, nesse caso, operam como facilitadoras para atender aos
anseios da população. Este projeto é executado pela Fundação Catarinense deAssistência Social - FUCAS, e já logrou diversos êxitos, tais como: construção
de um muro para contenção de deslizamentos; mudança de endereço do Posto de
Saúde, que antes se localizava em uma rua de difícil acesso; e construção de uma praça
onde existia um “lixão”.
Figura 2 - Registro
realizado pelos jovens no levantamento do que precisava ser melhorado
Como resultado do projeto, os jovens conseguem utilizar o computador, a
internet e ferramentas das TICs e conscientizam-se sobre seu papel quanto
cidadão.
Dessa forma, a inclusão digital, partindo das questões socioeconômicas e
peculiaridades do público atendido e pautado pela proposta pedagógica
freireana, demonstra-se como uma forma de inclusão social e de exercício pleno
da cidadania. Os jovens passam a perceber que além das reclamações de problemas
na comunidade, podem buscar soluções em rede, envolvendo outros cidadãos e
instituições.
No caso do Posto de Saúde, foi
considerado de difícil acesso pela maioria dos moradores da comunidade em uma
entrevista realizada pelos adolescentes. Os participantes do projeto fazem a
tabulação da entrevista e buscam soluções para os problemas priorizados. Nesse
caso, realizaram um abaixo-assinado e coletaram as assinaturas em diversos
locais da comunidade, como minimercados, padarias, associação de moradores.
Após isso, levaram a autoridade competente (Prefeito) para que tomasse as
medidas necessárias. Como resultado, o Posto de Saúde foi transferido de local,
atendendo a esta demanda da comunidade.
Figura 3 -
Realizando Entrevista na Comunidade
Conforme Roberts (2004), a participação do cidadão é um processo em que os membros da sociedade dividem poder com os agentes públicos, com o intuito de tomar decisões e realizar ações com o foco no interesse público da comunidade. Assim, as tecnologias atuam como fomentadores da participação da sociedade, e facilitam ou complementam o exercício do papel do estado na interlocução com as pessoas. No caso do projeto, a tecnologia e a organização proponente permitem a comunicação entre a comunidade para verificar o que precisa ser melhorado e possibilitam buscar as soluções de forma coletiva.
As tecnologias vêm auxiliando no enfrentamento de dilemas da participação, sendo um mecanismo para ampliar o engajamento
do cidadão nas questões públicas. Iniciativas como a do Projeto Caixa Digital
ampliam a participação e possibilitam que os cidadãos participem das soluções
públicas, sendo, portanto, uma forma de coprodução do bem público.
* Guilherme dos Santos Murara é graduado em administração
pública pela Udesc/Esag, especialista em gestão pública pela UFSC; atua como
assessor executivo na Fundação Catarinense de Assistência Social, FUCAS, em
Florianópolis; cursou a disciplina Coprodução do Bem Público, do mestrado acadêmico em
Administração, na Udesc/Esag, como aluno especial.
Referências:
Blog do Projeto Caixa
Digital. Florianópolis, SC. 2015. Disponível em: http://projetocaixadigital.blogspot.com.br/
ROBERTS, N. Public
Deliberation in an age of direct citizen participation. American Review of Public Administration. v.
34, n.4, p. 315-353, dec 2004.
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