* Por Jeferson Dahmer
Está cada vez mais
evidente para a sociedade que a Independência do Brasil, o famoso grito do
Ipiranga, em 07 de setembro de 1822, não reverbera como força articuladora de
um ideal de país. É mais do que claro que aquele foi um ato liderado e
conduzido pela aristocracia da época, sem um devido envolvimento da população.
Se o espírito da independência realmente estivesse consolidado, as bases da
nossa democracia não estariam asseguradas?
Foto: Mariana Brochado |
A onda de mobilizações
que tomou conta do país clamando por mudanças, recebe hoje diversas
interpretações, significações, distorções, análises científicas e ideológicas.
Entretanto, muitos têm concordado que elas são uma crítica e uma resposta à
falência do nosso modelo representativo de governo. Com isso, não afirmo que há
ares de tomada do poder do Estado pelos que estão nas ruas. Esse é um discurso ultrapassado.
O construir, com participação, começa a despontar no horizonte e a ser
reconhecido pelo próprio governo como essencial a tomada de decisão e ideal
para o fortalecimento democrático.
O cenário atual é
desafiador, dinâmico, muda rapidamente. Há dificuldade por parte dos governos em
compreender as dinâmicas da sociedade, o momento é de crise das instituições, pelo
menos da forma como as conhecemos hoje, hierarquizada, normativa e fechada em
uma torre de marfim, certa de que suas convicções dão a tônica das respostas a
todos os problemas. Negar-se a reconhecer que a época é de mudança, que a
lógica disseminada de ação está em declínio é persistir na sucessão de erros
históricos que nos trouxe até os grandes problemas e dilemas da vida moderna.
Nesse contexto, continuaremos a perpetuar o eco cansado de um sete de setembro
que nos deixa um legado cultural carregado de controvérsias, mas que é fato
consumado? Por estar consumado, não significa que não possamos ter outra
possibilidade de futuro. A democracia começa a tomar corpo quando a sociedade
começa a entender de democracia e a se interessar novamente pela política. Esse
talvez seja o primeiro passo rumo ao futuro.
Algumas lições sobre a
democracia podem ser compreendidas a partir do legado de Thomas Jefferson. Em Notes of Virginia ele declarou: “Em todo
governo na terra, há um vestígio de fraqueza humana, um germe de corrupção e
degeneração, que a astúcia vai descobrir e a maldade vai insensivelmente
desenvolver, cultivar e aperfeiçoar. Todo governo degenera, se confiado tão
somente aos governantes do povo. Assim, o próprio povo é o seu único
depositário seguro. E, para torná-lo ainda mais seguro, a mente do povo deve
ser aperfeiçoada [...].’
Portanto, façamos nossa
parte. A nossa real e sólida independência depende do exercício da política por
cada um de nós. Esse é o grito que poderá garantir a verdadeira independência
do país. Fazer política é a atividade mais nobre de um cidadão ao atuar na
esfera pública, participando da vida da cidade, estando ele nos governos, nas
empresas, nas organizações e nos movimentos sociais. Estas são apenas reflexões
e não respostas, pois a mudança só acontece quando somos capazes de refletir
sobre o mundo que nos cerca, sobre as contradições que nos rodeiam. Fazendo a necessária
critica ao presente, a partir do legado de nosso passado é que, talvez,
possamos chegar à possibilidade objetiva de um futuro democrático e independente.
*Mestrando - Programa de Pós-Graduação em Administração. Área de Concentração: Administração Pública e Sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário