O ano de 2017 apresenta
inúmeros desafios para a gestão pública. Tais desafios são sentidos tanto por
governos nacionais, quanto pelos governos locais. Todavia, os governos locais,
no Brasil, encontram-se em um momento singular de potencialidades e também
de grandes desafios.
Dentre os antigos e sempre atuais desafios
que se colocam à gestão pública está a ampliação das demandas e da
pressão por serviços públicos de qualidade no nível local. Algo positivo, mas
que traz dificuldades às administrações municipais. Tal fato ocorre
principalmente em função de, no Brasil, haver um federalismo fiscal
desequilibrado, que centraliza recursos (receitas públicas e regulação) no
âmbito da União, e que os descentraliza por meio de transferências e programas
padronizados, em um país marcado pela diversidade regional.
Reconhece-se que a Constituição de 1988 fortaleceu o
federalismo brasileiro por meio do aumento da autonomia fiscal de estados e municípios. Descentralizou os recursos, primeiro, por meio da
atribuição de competências a cada ente da federação (união, estados e
municípios) e, segundo, por meio das transferências tributárias constitucionais
e transferências voluntárias, as segundas geralmente firmadas por meio de
convênios e contratos com a União.
No entanto, as
transferências voluntárias, firmadas por meio de convênios e contratos,
possivelmente, na gestão 2017-2020, serão menores do que as que aconteceram nas
últimas gestões, já que dependerão diretamente da situação orçamentária do Governo
Federal. Isso poderá acarretar a diminuição do investimento público no nível
municipal, já que a maior parte dos investimentos municipais tinha apoio
direto dos programas do Governo Federal, geralmente articulados por meios dos
ministérios (assim, em termos de responsabilidades, os recursos continuam
centralizados na União).
Além disso, as municipalidades
terão o antigo desafio de gerenciar os recursos de maneira mais eficiente e
racional. O que impõe que os gestores municipais procurem investir em
capacitação dos servidores municipais, na utilização massiva da
tecnologia da informação para minimizar e desburocratizar os processos da
gestão pública, e na promoção do (re)design e da inovação nos processos e serviços públicos, com envolvimento de servidores e usuários. Bons exemplos de novas
práticas de gestão pública têm se apresentado como alternativa e têm sido
incentivadas, por exemplo, pelo Programa Nacional
de Gestão Pública e Desburocratização – Gespública, que apoia o desenvolvimento
e a implantação de soluções que permitam um contínuo aperfeiçoamento dos
sistemas de gestão das organizações públicas e de seus impactos junto aos
cidadãos.
Sendo assim, as
municipalidades têm como alternativa usar os recursos públicos de maneira mais racional, inovadora e democrática, além de ampliar a conformação de parcerias público-privadas, de
consórcios municipais e regionais, com muitos exemplos exitosos no Brasil, e da
formação de um aparelho estatal mais aberto a esses novos arranjos
institucionais.
Dentre os novos desafios
está, primeiramente, a polarização do discurso político, com impactos na
governança pública e na articulação inter e intragovernamental. Tem-se a necessidade de conciliação dos discursos em prol de uma agenda pública
comum e viável no contexto de restrições. As municipalidades necessitam,
também, ampliar a transparência da gestão pública como
condição do acesso à informação, da confiança e da participação cidadã.
Os novos
desafios impõem, assim, que a gestão pública municipal seja capaz de otimizar
os recursos públicos, conciliar e articular interesses e oferecer mais transparência
e mais efetividade no suprimento das demandas locais.
É preciso reconhecer quão
complexos são os novos e antigos desafios da gestão pública municipal. Talvez o
maior deles seja a conciliação de interesses e a complexidade da gestão,
considerando que são diversos os atores que compõem a arena pública (diversos segmentos da sociedade
civil, gestores públicos, organizações públicas e privadas, acadêmicos, etc.).
Entretanto, muitas das alternativas passam pela participação do cidadão, tanto
na definição de diretrizes, de uma nova estrutura do Estado e de agenda pública,
quanto na coprodução dos serviços públicos de qualidade.
O passo inicial para os
gestores municipais parece estar na maior abertura para a sociedade e no
diálogo (para descobrir quais são as prioridades e construir consensos e alternativas) e, depois, na racionalização
dos recursos, a partir das necessidades atuais dos cidadãos, mas sem comprometer
as necessidades futuras. Articulando, assim, os diferentes atores locais em variados arranjos institucionais e formas inovadoras de governança colaborativa. O passo
seguinte (em meio a um processo que é contínuo) é conformar, em conjunto com a sociedade, uma agenda pública local que ultrapassa a agenda
governamental e a agenda de um mandato e, ao mesmo tempo, se articular regionalmente e contemplar o horizonte temporal do longo prazo, ancorado por esses
novos arranjos institucionais.
São muitos os desafios,
mas os tempos de crise podem também ser férteis para revelar as potencialidades e desenvolver as
capacidades de governantes, servidores públicos e cidadãos.
*Elaine
Cristina de Oliveira Menezes é professora do Curso de Gestão Pública e do Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Territorial Sustentável na Universidade Federal do Paraná e é
pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Politeia, da Udesc Esag.
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